O ser humano, por natureza, é um viajante. Nasce para empreender uma maravilhosa viajem: Conhecer-se a si e ao mundo.
A vida é uma travessia por mares torbulentos, quer façamos grandes viagens, descobrindo ilhas e continentes, quer façamos uma viagem ao mundo do fantástico, proporcionada pela literatura.
Os portugueses de quinhentos, movidos pelo impulso dos seus monarcas, enfrentaram grandes perigos e revelaram novos mundos ao mundo. Havia quem dissesse, então, que buscavam notícias de um rei cristão que viajara para oriente. Descobriram-se novas culturas, novas formas de pensar, novos credos, hábitos diferentes que nos obrigaram a repensarmo-nos por dentro. Olhamos o outro e perguntamo-nos. Quem somos, o que fazemos alí e o que temos para trocar.
Contudo, as asas da imaginação também nos podem levar a viajar, pois o conhecimento também nos é revelado nas páginas de um livro. E esse mundo ficcional pode ser tão enriquecedor como uma viagem à Índia. Não terá sido por acaso que Fernando Pessoa disse um dia “ E a nossa grande raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo de que os sonhos são feitos.” Evidentemente que não se referia a uma nova viagem à Índia, mas a um espaço a construir pelo próprio homem. Pode ser um mundo novo, mais humano, que cada um terá de construir para si. É, pois, isso que a literatura faz. Questiona-nos, choca-nos, violenta-nos e faz-nos crescer. Humaniza-nos.
Quando Sophia de Mello Brayner diz “Apoderou-se de mim uma fúria de viajar. Mas acima de tudo queria voltar à Grécia, que foi para mim o deslumbramento inteiro e puro e onde me senti livre e com asas” pode efectivamente ser a fúria de uma viagem à Grécia turística num belo Cruzeiro, mas pode ser também uma fascinante viagem à mística Grécia antiga. Aí encontraremos os primórdios da filosofia e daremos connosco a conhecermo-nos para, assim, conhecermos o outro.