segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Quem sois poeta?

Peregrino de dores que não tendes.
Inventor de sonhos a haver
Profeta acima da religião
Homem. Mulher.
Aspirante a sufi
Rei do mundo
Demandador do sagrado
Naufrago da diáspora
Sê Deus inteiro
Nas silabas mudas
Que buscam a verdade
nesta caixa de ressonância
que é a vida de um viajante
em fuga com as palavras.
Retirei este texto de António Macedo, escritor que muito nos ensina a crescer:
http://paginasesotericas.tripod.com/apelo.htm


É uma história que nos vem do Extremo Oriente e que o instrutor rosacruciano Edmundo Teixeira — que tanto me apraz citar! — contava aos meditantes que o liam. Inspira-se num episódio muito simples ocorrido com o grande poeta japonês Matsuo Bashô (1644-1694) que se celebrizou na composição do haiku, forma breve de poesia de três versos e dezassete sílabas. Um dos discípulos de Bashô compôs o seguinte haiku :

Uma libélula rubra.
Tirai-lhe as asas:
uma malagueta.

O mestre Bashô deu-lhe uma lição de sabedoria positiva invertendo a ordem dos versos:

Uma malagueta.
Colocai-lhe asas:
uma libélula rubra.

Edmundo Teixeira comentava: uma libélula perder as asas e reduzir-se a uma malagueta é uma ideia negativa e pessimista, é o retrocesso do reino superior ao inferior. Mas uma malagueta, ou uma lagarta vermelha, transformar-se em libélula é uma libertação, um desabrochar e uma ascensão ao céu infinito, que é a meta de toda a obra divina. Também na vida encontramos pessoas com os dois tipos de disposição: os que acham que tudo lhes corre para trás e os que não recuam perante o esforço de subir, nem que seja começando por um pequenino degrau. E rematava: O que preferem? Descer ou subir? A vossa escolha decidirá do fracasso ou do êxito das vossas vidas…
Um autor místico que escolhera o anonimato escreveu um dia:
«Não importa qual seja a minha prece: Deus não só lhe responde, como é a própria resposta».
(...)
DEUS NUNCA NOS ABANDONA.

-----ooOoo-----

Um espelho para o leitor

Quem és tu, viajante sem bagagem?
Passageiro esquecido
na carruagem da vida
Aquele que por destino ou vontade
aqui aportou,
na estação infernal onde Mara te abraçou.
Ah, mísero e cego, me iludi
nos seus caprichos.

Eis senão quando uma Voz profunda:
"Afasta o véu da escuridão.
Não te atrases. É a hora!
Escuta Deus ou o Buda que há em ti
Sê mestre de ti próprio
Se desejas a Luz
Não adormeças à beira do caminho!"


Mas quem assiste à derrocada dos tempos
e se vê, marioneta de um espectáculo infernal,
Como pode brindar o mundo
pronto a degolar o fruto no seu  próprio ventre?

Que estes grilhões  se libertem
e, por entre cinzas,
se transformem em círculos virginais.
Então sim, renascerás

A princípio, vagamente deixo-me transportar pelas tuas palavras.
Depois, o teu sorriso, a tua gargalhada
Essas palavras penetram-me
Ferozmente.
Já não sou eu…
Que me importa que a palavra tenha gumes ou ácidos
Se com ela me entendo, penso e medito Sem tempo
Não inventes relógios, colhe o momento bendito.
Solta os silêncios, quebra as amarras do teu pensamento
Sê, apenas
Festa sem senhora da agonia

No lilás dos teus hinos
Ouvem-se bailias e barcarolas
Com elas viajo.
São cânticos de amor no vértice do teu tempo irreal e fragmentado.

Lua nova de Agosto
Que te leva para rotas de quentes desejos,
grava-te nos lábios sorrisos de incenso que arderam até ao fim…
Lua nova de Agosto
deixa-me sonhar até ao fim…

A tua coragem...

Esvoaçam epopeias
Que desfolhas como rosários.
Nelas perscruto meus sonhos adiados.
Ah, ser tu, sendo eu
Ter a tua coragem
Cravada no meu peito
Viajar, perder países,
Ser toda a gente
Num frémito, ao mesmo tempo.

Traçar a vida

Traças a vida à beira mar dos teus pensamentos
Mas os sonhos se desvanecem
Perdes a vida na amargura das marés
Uma aragem te acordou
Na nitidez dos sentimentos
Veleiros de nostalgia passam na tua praia ao longe

Assistes à sua passagem
Recheias os dias
de pensamentos e imagens
Foges da vida
Sacias na magia branca do papel o desassombro dos dias

Trocáste o ser oculto pela máscara
Abandonas-te
A vacuidade és tu.
Desapega-te
Da vida

Resposta às tuas palavras

Por cima destas montanhas
o firmamento abre-se em geometrias transparentes.
Dia e noite coágulos do meu animismo em combustão.
A vida foge, nas trevas
Os astros ditam caminhos,
Paraísos artificiais que busco em céus primitivos.

Para lá dos poemas vivem mitos feitos da memória.
Chaves por abrir arcas proféticas
Símbolos ancestrais
a recordar os ruídos do mundo.

Saudades, memórias puras,
Doces aromas que no céu gravitam
Gorgeios de estrelas amando as montanhas.
Ó cidade, vem de mansinho ver o rio da minha aldeia
No solstício de inverno,
vem ouvir a voz da deusa cantar o indizível.

Longos poemas gravitam na floresta
Apagam-se as luzes do meu peito
Voam arcanjos que se alimentam das memórias
que me deixáste,
escuto e passáste
Sublimação de doces saudades, vislumbre de um querer
além mar, além espaço.
Não respondi às palavras. Elas não me obedecem.