segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Nas asas da Literatura

O ser humano, por natureza, é um viajante. Nasce para empreender uma maravilhosa viajem: Conhecer-se a si e ao mundo.
A vida é uma travessia por mares torbulentos, quer façamos grandes viagens, descobrindo ilhas e continentes, quer façamos uma viagem ao mundo do fantástico, proporcionada pela literatura.

Os portugueses de quinhentos, movidos pelo impulso dos seus monarcas, enfrentaram grandes perigos e revelaram novos mundos ao mundo. Havia quem dissesse, então, que buscavam notícias de um rei cristão que viajara para oriente. Descobriram-se novas culturas, novas formas de pensar, novos credos, hábitos diferentes que nos obrigaram a repensarmo-nos por dentro. Olhamos o outro e perguntamo-nos. Quem somos, o que fazemos alí e o que temos para trocar.
Contudo, as asas da imaginação também nos podem levar a viajar, pois o conhecimento também nos é revelado nas páginas de um livro. E esse mundo ficcional pode ser tão enriquecedor como uma viagem à Índia. Não terá sido por acaso que Fernando Pessoa disse um dia “ E a nossa grande raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo de que os sonhos são feitos.” Evidentemente que não se referia a uma nova viagem à Índia, mas a um espaço a construir pelo próprio homem. Pode ser um mundo novo, mais humano, que cada um terá de construir para si. É, pois, isso que a literatura faz. Questiona-nos, choca-nos, violenta-nos e faz-nos crescer. Humaniza-nos.

Quando Sophia de Mello Brayner diz “Apoderou-se de mim uma fúria de viajar. Mas acima de tudo queria voltar à Grécia, que foi para mim o deslumbramento inteiro e puro e onde me senti livre e com asas   pode efectivamente ser a fúria de uma viagem à Grécia turística num belo Cruzeiro, mas pode ser também uma fascinante viagem à mística Grécia antiga. Aí encontraremos os primórdios da filosofia e daremos connosco  a conhecermo-nos para, assim, conhecermos o outro.

domingo, 11 de setembro de 2011

A verdade

A verdade não pode ser transmitida à humanidade porque a humanidade a não compreenderia.
Só por símbolos, portanto, pode a verdade ser-lhe dada; de sorte que vendo o símbolo sinta a verdade sem a compreender.
Fernando Pessoa [Esp.54-18]

Umberto Boccioni

Revelação

 II
Por ti, subirei às alturas,
Prestarei humildemente
meu selo ao grande arquitecto,
Imperador nos céus e na terra.
Mestre, poeta e sábio,       
Revelai-me o Universo Dantesco,
ainda que seja de olhos vendados

III
Entardecia e a fadiga aprisionava-me
Cedi a enfeites adversos ao bem maior
Extraviada da direita estrada
Vagueei por montes e vales
Alma penada neste mundo errante
Desnorteada vivia
Rezando por diferentes cartilhas.
Uma voz escuto na fria noite:
“Só o mal que fazemos aos outros é que devemos temer!”
Piedosa voz que acolheu  minhas razões
Iluminou os céus.
A eles subi com tal ardor
que um luzente olhar se manifestou:
Aqui estou.
Inclino-me à divina potestade.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Fios que escorrem sobre nós

I
Selva tenebrosa, mais amarga do que a morte.
Por ela entrei, como não sei.
Minha alma temeu e o coração padeceu.
As tormentas foram tais,
Tantas as falsas promessas,
Tantos os caminhos.
Com uma venda nos olhos
Errante me fiz à estrada
Subi a encosta.
Afastei a onça, a loba e o leão
Movida por forças desconhecidas gritei!
“O sol já vai alto”.
O matutino tempo escondera
as estrelas em seu regaço.
Sustive a respiração:
ouvi o lamento : “Ah, misere me.»
Não foram Dante ou Virgílio,
Senhores de ancestral  grandeza,
Esses não desceriam ao meu tabernáculo.

Não me pergunteis quem sou.
Peregrino fui. Poeta me sonhei, de palavras alheias.
Ao longe, por entre as brumas adivinho:
será eco dos meus pensamentos?
Se és tu, o mestre que busco,
a fonte que corre por deleitosos montes,
Eu serei o aprendiz.
Contigo descerei às entranhas desta terra.
Nela se perscrutarão os mais profundos anseios
De uma pátria entristecida.
Seguir-te-ei. Serão meu alimento:
Tua Sapiência,  Teu amor e Virtude.

domingo, 4 de setembro de 2011

sábado, 3 de setembro de 2011


O milagre da poesia acontece nos teus braços, nos instantes de graça em que desvendas os segredos.

Poesia e Pensamento

O folósofo sabe o que busca,
o poeta não busca, encontra.
Aquele é a Luz, este o iluminado.
Na fonte bebem as religiões,
à Foz chega a Poesia.

Linguagem sagrada
na Pré-história das palavras,
Foste Épica, Lírica
chegáste-me sob a forma de Elegia.

A filosofia anseia a explicação,
pela palavra,
A poesia é o azimute
que a anuncia.
A religião recebe a LUZ de ambas.
E o asceta nasce.


sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Na senda de Pessoa

Paro à beira de mim e me debruço...
Abismo... E nesse abismo o Universo

Tu que preencheste a vida de universos possíveis,
Que desprendeste a alma e a esquartinhaste
Diz-me - o que encontráste? -
Bebeste a vida a tragos de amargor
Criáste as vidas que mercúrio  te roubara
E no seu espaço astral o craváste
- a ferro e fogo - desmedidamente.

Oh mistério! Oh segredos que contigo partiram!
Quantos Deuses encontráste no céu?
Confessa...Aqui é a treva, aí a Luz
que procuráste em vão.
Tu sabias, quando dizias
"sou Deus inconscienciando-me para Humano;
sou mais real que o mundo".
Eras o Cristo negro, supremo
que estranhavas a excessiva razão
que havia no teu coração.
Agora, sim, desvendáste
o Universo!
Sigo-te os passos, aqui.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Ulisseia, capital do Mundo

"Quem nasce em Portugal é por Missão ou Castigo" - Profecia lapidar da Montanha de Sintra.

Descida aos infernos
Tradição primordial
Vitriol das transmutações
Retorno ao útero materno
Buscador em Agahrta da Shambhala  celeste
Jerusalém a ocidente

Ulísses avistando a montanha da Lua
Lug e Lusina, o Sol e a Lua
Ó terra da Serpente
Senhora da Sabedoria
Feiticeira do amor
Kundalini lusa
Ofiússa renascida

Andando eu a navegar, encontrei esta pequena lenda:
Há muito, muito tempo atrás, existiu um reino conhecido pelo nome de Ofiusa. Esta terra localizava-se em um lugar distante, próximo a um grande mar oceano pouco conhecido. Ofiusa, segundo dizem, significa Terra de Serpentes. Este reino era governado por uma rainha, meio mulher, meio serpente. Contam que tinha um olhar de feiticeira e voz meiga, jeito de menina com incrível poder de sedução.


            A rainha tinha o hábito de subir ao alto de um monte e gritar ao vento, para depois ouvir a sua própria voz no eco:
            - Este é o meu reino! Só eu governo aqui, mais ninguém! Nenhum ser humano se atreverá a por aqui os pés: ais de quem ousar, pois, as minhas serpentes, não o deixarão respirar um minuto sequer!


            Por muito tempo quase ninguém se atreveu realmente a entrar no reino da rainha.
            Acreditava-se que esta costa era amaldiçoada pelos deuses e também pelos homens. E os poucos que se arriscavam eram seduzidos pela rainha e nunca mais retornavam.


            Porém, um dia, vindo de muito longe, um herói chamado Ulisses, aportou na terra das serpentes. A rainha apaixonou-se imediatamente, e fez de tudo para impedi-lo de ir embora. Ulisses, muito habilmente, fingiu deixar-se levar pelos encantos da rainha, até que seus companheiros descansassem e pudessem novamente fugir.


            Como ficou deslumbrado com as belezas naturais que viu, subiu a um monte, e assim como fazia a rainha das Serpentes, gritou ao vento:
            - Aqui edificarei a cidade mais bela do Universo, e dar-lhe-ei o meu próprio nome. Será Ulisséia, capital do Mundo!


            Ulisses, no entanto, acabou por ir embora, assim que seus barcos estavam abastecidos e os homens descansados. Fugiu da rainha que correu atrás dele desesperada. Dizem que seus braços serpenteando atrás do herói acabaram por formar sete colinas rumando em direcção ao mar.


            Ulisses foi-se, mas a lenda ficou.
Retirado de
http://esoterismo-kiber.blogs.sapo.pt