domingo, 10 de março de 2013


De repente, muito de repente,
 a cor destas montanhas se desvaneceu.

O sol envergonhado assiste
às lagrimas
       de nuvens
                                  que vêm direitinhas
                                                         para a terra
                                                                            em nupcial
                                                                                                cântico.

E fico contemplativa 
e demoradamente descrevo para mim 
a ondulação das serras em frente,
Como se pintasse o arco-íris
numa pontuação irregular.

E nada sei da origem dos ventos
que me acariciam os dedos na escrita
e dão sentido às velhas metáforas

que carrego  nos alfarrábios sem cor.


Pura ficção
de que alguma coisa se altera.
Pura ilusão,
tudo continua.
Na fluída e incerta essência misteriosa
da vida,
flui em verdes sombras a água nua na
Curva do rio 
onde se escondem as ideias adormecidas. 

O mesmo rio não pára.
O principio está só  no pensamento,
E o sol assistiu à descida das águas 
que agora darão de beber à terra.
E estas montanhas de novo serão alimento...
E a vida é um circulo!

Sim, os gestos inventados pertencem aos deuses 
que  me acompanham na diáspora 
desta frágil vida.
Tudo passa 
e eu gostava de te poder dizer 
que os lugares de exílio 
não são as ruínas desta pátria, não,

No exílio, há moinhos a girar 
e as águas seguem o curso 
e serão gérmen 
onde se desenham as manhãs claras  do teu acordar,

Vês, a neve roçou na minha pele 
e eu afaguei o teu sorriso 
e a tua alegre chilreada prazenteira.

Foste música perfeita 
numa concha prateada em solfejos delicados
São hinos à madrugada,

Neste instante onde os céus me respondem 

que as terras se vestem para eu recitar o teu madrigal.

Percorro todas as linhas do teu poema 
e recolho dele as palavras 
que guardaste  na erma noite dos meus sonhos.

O tempo rodopiou em desenhos nupciais 
e eu fiquei presa ao teu passado.

Os dias complicam-nos os voos  
e constroem-nos estradas 
que se desviam das rotas iniciais.

Como explicarei eu o significado das palavras 
que ficaram nas páginas 
que o vento levou.

Ouço-as, ao longe, em gemidos, por entre os vales,
Lá, onde habitam  cânticos de agonia
Onde sempre regresso
Ao fim do dia
E acendo as velas no altar dos meus pensamentos.