Na lonjura das palavras...
Escolho a
mesa ao canto.
O sol,
intenso, mirava-se no meu livro,
o teu
Crisol.
Para te ler,
roubo-te as palavras,
invento-lhes novos sentidos.
Perdoa-me.
Uma ogiva
desenhava-se na página iluminada,
onde as tuas palavras se estendiam
como
cristais em mapas de alabastro.
Descobrindo
o teu texto,
vejo nascer
o meu,
refeito nas
pautas da tua lira.
Cantando deslizam ,
na folha franca do meu texto
as tuas
melodias.
Quem são
esses poetas que ousas nomear?
Os poetas
malditos...
Que trazem nos olhos as dores do mundo...
Viveram a
loucura das seivas inflamadas
no vai-e-vem
das marés,
Na partitura
da onda espraiada.
Deposito palavras à beira terra,
na folha em branco
entre linhas que não
escrevo.
Apenas
penso.
Deponho as
mais belas
que roubei
aos poetas malditos
que exclamam
quando atravesso
a Jerusalém
do teu poema:
Eis-nos, sílex que buscas.
E no outro
lado da página,
Na
"terra do poema",
há ruelas
antigas registadas em diários
depositados
no fundo de uma cómoda,
ansiosa por resgatar
secretos martírios
das almas abandonadas.
Que ânsia
longe chora agora
o indizível
que cravado no peito fica
quando no
olhar me deixas
toda a
ternura que te não posso dar.
Não esperes
nunca nada.
Já não há "mel na terra".
Saltam
palavras de página em página
desta "Safra" poética
que empilhei
na mesa ao lado
porque os mestres da palavra
lançam vozes adamantinas
sobre o meu sonho
para
adestrar o que já não sou
e nunca
serei.
Palavras, prefiro-vos
violentas às golfadas,
não de fácil
pensamento,
mas de
vinhos acres, não deleitosos.
Lei-vos
demais, ó poetas malditos!
Apenas sei
que
permaneci no
teu Crisol .
Retiro-lhe a
gema, o magma
e de Sírius
descem estrelas.
Ah, pudesse eu desvendar
o mistério
maior da vida.
Quantas
mortes, quantas vidas...
neste galope desenfreado
que
habitamos!
Eu sou o
vocábulo que te inscreve
na voz do
verbo "silene" de constelações.
Venha o sol,
venha a dança, em rios de fogo
Que a luz
pulse planetária
para que se inventem novos códigos.
Sacrifiquem-se
inocentes palavras
às aras
votivas do deus lar
e farei
dessas palavras uma roda viva
de chama
violeta
para que o
mundo prossiga
em sua
legítima defesa.
Isis responde ao CRISOL de Ana Pinto