quinta-feira, 21 de março de 2013

à conversa com C. Pessanha


Imagens que passais pela retina dos meus olhos
Porque não vos fixais?
Por que vos transformais em poema, em árvore, em rio e sombra?
Como o som do orvalho, gota a gota, numa lentidão crepuscular, 
vós habitais o inverno da minha memória.

Subitamente, desço ao interior da terra,
Lá onde dormem os silêncios,
Lá, onde as máscaras são verdadeiras
Aí encontrei-me inteira(mente) nua
Frente a frente com a força destas palavras.

segunda-feira, 18 de março de 2013


Gravei as tuas palavras a tinta da china
Num papel de arroz matizado a sépia.
Escuta
Há palavras inclinadas sobre o meu coração
Outras vestidas de organdi
Perfumadas porque falam de ti
Meu amor
Não têm tempo, são o sol e são a lua
São a árvore alta do teu jardim
Olha estas, aqui, são labirintos onde se escondem as saudades,
 talvez do que ainda não vivemos.
As sibilas auguram:
Doces palavras sussurradas no estio
À beira rio da nossa memória,
Visionárias, proféticas, sibilinas,
Ao cair da noite,
Anunciam aos quatro ventos
este grito encarcerado na pele.
Agarrei-as
e sai por aí
vou ao teu encontro porque
A hora é nossa!

segunda-feira, 11 de março de 2013



Há noites que valem uma vida…
Ouço ao longe o marulhar do vento no teu coração.
Deitas-te sob oceanos de estrelas:
Eis o arco-íris do amor
Não chegaste depois da hora.
Os relógios pararam e os violinos soltaram gemidos.

O mar revolto.
 é agora planura verde
onde a esperança
deixou os lençóis de linho
para a noite contemplar
o esplendor dos amantes.

Tu aí à beira do mar...
Deste-me que pensar.
adormeci nos teus versos 
e acordei nas minhas palavras:
Quantas noites
te busquei no horizonte
quantas madrugadas desfolhei o pensamento
entre as pontes do meu silêncio  e a praia serena
lá, onde as ondas me devolvem o teu sorriso 
há um rumor baixinho 
que rasga a minha sede de horas insensatas, 
de palavras ancoradas nas marés do teu viver.

Os relógios devolvem-me a realidade 
e um  encolher de ombros surge na orvalhada seiva
 que me alimenta os sentidos, com as tuas palavras.

Fiquei ancorada neste porto seguro, baixei os braços à vida
Se a vivi pela metade, 
o fatum culparei.

A maré cheia não se fez para quem escolhe a planura.

Não faças da vida um cavalo de batalha
Bellum sine bello
Transforma as batalhas em correntes de energia 
e os rios levarão o curso das tuas palavras para o Tejo, 
lá onde tudo principia e nunca acaba
Busca-te em cada onda 
que bate de mansinho na areia
e os ventos devolver-te-ão
o batel da esperança.
Na urgência das águas não inventes desculpas, 
a tempestade amainou.

Deixa correr a tinta ao sabor de Zeus 
e o marinheiro aportará no destino, 
trazido pela aragem da noite, 
onde os incêndios se encontram e se apagam,
Para nascerem quantas vezes o dragão habitar 
                                                                  nos abismos das almas que se desejam…

domingo, 10 de março de 2013


De repente, muito de repente,
 a cor destas montanhas se desvaneceu.

O sol envergonhado assiste
às lagrimas
       de nuvens
                                  que vêm direitinhas
                                                         para a terra
                                                                            em nupcial
                                                                                                cântico.

E fico contemplativa 
e demoradamente descrevo para mim 
a ondulação das serras em frente,
Como se pintasse o arco-íris
numa pontuação irregular.

E nada sei da origem dos ventos
que me acariciam os dedos na escrita
e dão sentido às velhas metáforas

que carrego  nos alfarrábios sem cor.


Pura ficção
de que alguma coisa se altera.
Pura ilusão,
tudo continua.
Na fluída e incerta essência misteriosa
da vida,
flui em verdes sombras a água nua na
Curva do rio 
onde se escondem as ideias adormecidas. 

O mesmo rio não pára.
O principio está só  no pensamento,
E o sol assistiu à descida das águas 
que agora darão de beber à terra.
E estas montanhas de novo serão alimento...
E a vida é um circulo!

Sim, os gestos inventados pertencem aos deuses 
que  me acompanham na diáspora 
desta frágil vida.
Tudo passa 
e eu gostava de te poder dizer 
que os lugares de exílio 
não são as ruínas desta pátria, não,

No exílio, há moinhos a girar 
e as águas seguem o curso 
e serão gérmen 
onde se desenham as manhãs claras  do teu acordar,

Vês, a neve roçou na minha pele 
e eu afaguei o teu sorriso 
e a tua alegre chilreada prazenteira.

Foste música perfeita 
numa concha prateada em solfejos delicados
São hinos à madrugada,

Neste instante onde os céus me respondem 

que as terras se vestem para eu recitar o teu madrigal.

Percorro todas as linhas do teu poema 
e recolho dele as palavras 
que guardaste  na erma noite dos meus sonhos.

O tempo rodopiou em desenhos nupciais 
e eu fiquei presa ao teu passado.

Os dias complicam-nos os voos  
e constroem-nos estradas 
que se desviam das rotas iniciais.

Como explicarei eu o significado das palavras 
que ficaram nas páginas 
que o vento levou.

Ouço-as, ao longe, em gemidos, por entre os vales,
Lá, onde habitam  cânticos de agonia
Onde sempre regresso
Ao fim do dia
E acendo as velas no altar dos meus pensamentos.